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Passeio madrugador pelas ruas quase sem gente. Velhos de cartas na mão e juventude amputada nos olhos debatem-se com a incerteza do dia da partida. Uma mulher de seios caídos procura-me na memória e só me encontra quando já estamos distantes. Hesita entre voltar para trás e continuar. Continua. Agradeço-lhe a bondade de me poupar de pessoas. Do outro lado do passeio, um homem estendido no chão viaja no sono que lhe rouba, por momentos, a casa que não tem. Sobre o cartão que é uma cama, os ossos sugam-no de nada ter. E o céu carregado, o céu que não passa. No quiosque, uma velhota confessa-me baixinho, como se temesse estar perante um segredo que pudesse colocar em perigo o futuro da humanidade: “eu sei quem você é”. Retiro-me sem uma palavra. Sempre tive inveja de quem sabe mais do que eu.

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